
A chamada “Lei do Combustível do Futuro” foi aprovada pela Câmara dos Deputados, e agora resta apenas a sanção presidencial. Mas o que isso significa, na prática, pro consumidor que abastece seu carro todo dia?
Vamos direto ao ponto: mais etanol na gasolina, mais dor de cabeça pra quem depende do carro — especialmente os mais antigos — e um lucro garantido pra indústria de biocombustíveis.
A mudança mais polêmica é o novo limite permitido de etanol anidro na gasolina. Hoje, o percentual está em 27,5%. Com a nova lei, esse teto pode chegar a 35%. Embora essa alteração dependa ainda de aprovação técnica do Ministério de Minas e Energia, há uma forte pressão do setor agropecuário e de parlamentares ligados ao agronegócio para que esse aumento aconteça.
Mas o que muda pra você, motorista?
Se você tem um carro flex, provavelmente não vai notar diferença no funcionamento do motor. Esses veículos já foram projetados pra lidar com variações grandes na proporção de etanol. Mas não se engane: o que não muda no motor, muda no bolso. O etanol tem um poder energético menor do que a gasolina — ou seja, se a mistura for mais rica em etanol, o consumo aumenta. E alguém aí realmente acha que o preço da gasolina vai cair?
Spoiler: dificilmente isso vai acontecer.
Quem se dá mal mesmo?
Os donos de carros fabricados antes de 2003, quando o sistema flex começou a se popularizar no Brasil. Esses veículos foram projetados exclusivamente para gasolina e podem sofrer bastante com o aumento de álcool no combustível. O mesmo vale para muitos importados a gasolina — modelos que não estão preparados para lidar com etanol em alta proporção. Vai ser preciso esperar testes específicos, mas a previsão não é animadora.
E o biodiesel? A conversa é parecida.
O texto aprovado também prevê que a mistura de biodiesel no diesel fóssil, atualmente em 14%, aumente gradualmente até 20% até 2030. Parece bom? Só se você for produtor de biodiesel. Na prática, esse aumento pode gerar problemas sérios para caminhões, SUVs e picapes a diesel.
Quem trabalha na estrada já sabe: o excesso de biodiesel pode gerar borra no sistema de combustível. Isso entope filtros, bicos injetores e pode parar o motor do nada — tudo por conta de resíduos causados por microrganismos que se desenvolvem nesse tipo de combustível vegetal. E adivinha quem paga o conserto?
O motorista, claro.
Enquanto entidades do agro e parlamentares comemoram os lucros futuros, o dono do carro ou do caminhão fica com a parte mais difícil da equação: arcar com os efeitos colaterais dessa política. Afinal, não basta encher o tanque — tem que saber com o que você está abastecendo.
Pura verdade